sábado, 12 de maio de 2012

Pico Paraná : além do mito que limita o infinito.

 
  O mergulho da vez  é no ponto considerado o mais elevado do sul do Brasil : Pico Paraná . Este verdadeiro monumento, preservado pelo tempo geológico e admirado pelos montanhistas , localiza-se na Serra do Mar Paranaense e conta com quase 2.000 metros de altitude.O cume do Paraná proporciona uma visão privilegiada do conjunto de montanhas no qual está incluso e exige muita cautela e preparo físico para quem se propõe a alcança-lo.
    É denominada Serra do Mar uma extensa cadeia de montanhas que se prolonga do norte de Santa Catarina ao Rio de Janeiro , onde se interliga à Serra da Mantiqueira que se estende até o Espírito Santo. O Pico Paraná , descoberto em 1940 pelo geólogo Reinhard Maack e conquistado em 1941 , é uma formação rochosa de granito e gnaisse composto por uma vegetação predominantemente densa , apresentando , como na maioria das montanhas vizinhas , a típica Chusquea pinifolia , conhecida também por Caratuva .
   O último sábado , dia 05 de maio , foi presenteado por uma exuberante lua cheia que estimulou o meu amigo  Helton Laufer a organizar um bivaque no gigante das montanhas do sul (ou PP para os mais íntimos) . É válido reconhecer os pontos positivos que esse "boom" das redes sociais proporcionou , através delas tive a grande oportunidade de conhecer e criar laços de amizades com montanhistas e praticantes de aventura , uma vez que é raro encontrar indivíduos dispostos a levar e viver essa vida montanhística ...
    Aproximadamente vinte apaixonados pelas alturas confirmaram a empreitada , formaram-se  dois grupos : um sob liderança do Helton e o outro do Guilherme Rosa (Conrados Adventure) .Iniciamos a trilha , por volta das 19:30h , com a participação especial da esplêndida lua cheia encantando os olhos de quem a observava e excitando ainda mais a vontade de alcançar o cume. A trilha de acesso a este apresenta uma extensão de aproximadamente 7km ,com intercalados graus de dificuldade possíveis de serem superados , não sendo indicada para iniciantes pelo fato de ser exaustiva .
   Lanternas? Em vários trechos da trilha fui guiado somente pelo auxílio do satélite natural da Terra , com um cenário composto pela silhueta da cadeia de montanhas que integra a serra em questão. Nesse mesmo âmbito , de admiração e deslumbramento ,  me veio à cabeça a letra de "Infinita Higway" que me remete , simplificadamente , à liberdade de viver e ao desapego do medo de conduzir a vida com mais prazer .
  Antes de tocar o cume do Pico Paraná é necessário passar por três áreas de acampamento , conhecidas respectivamente por : A1 , A2 e A3 . Após passar os primeiros grampos da montanha pretendida , ainda distante do cume , me senti como um grão de areia diante da magnitude das elevações ao redor , simplesmente mágico .
  Horas depois de iniciarmos a trilha , alcançamos o cume com a receptividade da nossa guia lua , agora um pouco mais perto, e de um céu estrelado. O tempo colaborou muito com a nossa estada no cume do PP , a temperatura , na medida do possível , estava agradável e não ventava muito. Logo pela manhã o sol não deu as caras , timidamente aparecia entre as nuvens , mas , ainda assim,  a sensação de acordar no topo da montanha supera qualquer expectativa .





Essa rebeldia do astro rei contribuiu para a aparição do fenômeno ótico conhecido como " Glória ", no mundo ocidental ,e "Luz de Buda " na China. Este fenômeno ocorre em altas montanhas rodeadas de nuvens , quando o sol encontra-se próximo ao horizonte, sendo possível observar nossa imagem projetada nas camadas mais densas das nuvens e dos nevoeiros . As sombras projetadas , por vezes , podem atingir dimensões superiores a nossa estatura e acima de nossas cabeças podem se formar halos coloridos. Em comparação com um arco -íris , trata-se de um evento metereológico e ótico produzido pela luz retroespelhada (combinação de difração , refração e reflexão) . Pois é , infelizmente não fotografei ...

No cume do Pico Paraná
Momentos de epifania proporcionados pela montanha fazem com que nosso ego sinta-se refugiado em um verdadeiro santuário , sentindo na pele a verdadeira essência da natureza .Essência esta que se perdeu em meio ao novo mundo industrial onde os arranha - céus e monumentos artificiais dominam e segregam os resquícios de natureza que ainda existem .


   Na descida fomos acompanhados por névoa e chuvisco em alguns trechos , mas ainda com uma temperatura agradável para trilhar . Mais uma vez , trago na cargueira  a experiência de conviver com "malucos" também alucinados e apaixonados por esse mundo que proporciona um respirar diferenciado , um contato mais aproximado com o nosso interior e a liberdade para reciclar e renovar nossos pensamentos. A montanha é o lugar onde se quebra a ideia de que o mito limita o infinito , quando se é livre nada é limitado .


Foto: Juliana Oliveira 

Até a próxima trilha , abraço !









                                        
  




  







                         
















                                       












terça-feira, 17 de abril de 2012

A recompensa da montanha: Tucum - Camapuã




“Sentir com inteligência , pensar com emoção ” . Muito tempo demorei para compreender a essência dessa frase , talvez porque o momento oportuno para tal entendimento  ainda não havia chegado , sendo necessário mergulhar em um mundo onde a realidade é mais prazerosa e  a vida é mais vivida . Quando as portas das montanhas se abriram  pude compreender o real significado da frase  que havia se tornado um verdadeiro enigma : o cérebro começou a sentir e o coração a pensar.

Vamos lá ! O post de hoje  tem como pano de fundo a Serra do Ibitiraquire e traz como protagonistas as montanhas Tucum e Camapuã , aquela com aproximadamente 1.720 m e essa com 1.699m . Tão perto e ao mesmo tempo tão distantes uma da outra , inquietações que somente a óptica , apoiada na física, consegue responder … Cada montanha com suas peculiaridades e um fator em comum: presentear os seus desbravadores com as paisagens mais  fantásticas da Serra do Mar Paranaense.

A ideia de acampar no Tucum partiu do Cleber , poucos confirmaram presença e bem no fim só compareceram o próprio , Lúcio e eu . Partimos de Curitiba às 13:30 hrs  rumo à fazenda que dá acesso aos cumes , o sol permanecia tímido e as nuvens pareciam confabular para a qualquer momento despencar água . Mochilão nas costas e pé na trilha (abrindo a temporada 2012 )  , iniciamos a subida às 15:00 hrs e uma hora e meia depois estavamos na bifurcação que separa as montanhas em questão do imponente Ciririca (1.781m) .

Saindo da mata atlântica entramos no descampado que dá acesso ao Camapuã , esse trecho é bastante íngreme e , apresenta uma certa dificuldade quando se está de mochila cargueira , propicia uma visão dos falsos cumes dessa montanha. Estavamos num divisor de águas : do lado da Serra do Capivari o sol brilhava em meio a um céu de brigadeiro ,  do lado das montanhas  do Ibitiraquire uma nuvem negra estava formada juntamente com um maravilhoso arco -íris . Três horas após o início da subida alcançamos o cume do Camapuã e fomos recepcionados por um tempo encoberto e frio , nem era possível avistar o Tucum (nosso destino).
E a chuva despencou acompanhada de vento … Mudança de planos , começamos armar acampamento no Camapuã . Difícil lutar contra a intensidade do vento , minha barraca parecia mais um paraglider prestes a voar , foi só questão de armar as barracas e a chuva se intensificou ainda mais . O barulho da chuva é trilha sonora para os ouvidos , espanta os males da alma , agrega inspiração e reflexão .Uma música?Illex Paraguariensis , boa parte desse post foi escrito  , em pensamento , nessa noite chuvosa com o auxílio do assovio do vento nas abas da barraca .

As horas passaram , peguei no sono e quando acordei , pela primeira vez ,  me lembrei de despertar o celular para acompanhar o nascer do sol , a chuva continuava não dando trégua e por alguns momentos me frustrei (só por alguns momentos ). Às 06:00 da manhã acordei , não ouvia mais o barulho da chuva, de relance observei na barraca a luminosidade do sol , foi então que resolvi sair dela …

O sol nascendo atrás do Pico Paraná e sobre ele nuvens de cores avermelhadas refletindo o astro rei, aquele com a aparência de um vulcão em erupção  . Lúcio e Cleber também sairam das barracas para contemplar a receptividade do novo dia , todos com câmeras na mão . O céu estava azul , nuvens cobriam as montanhas mais baixas e molduravam as mais altas ,  uma bela e fria manhã de abril .






   Logo após o café da manhã iniciamos a trilha rumo ao Tucum,localizado a cerca de 40 minuto do Camapuã.O trecho que dá acesso ao cume é tranquilo e não exige muito esforço mas não despreza cautela.Alcançamos o cume recepcionados pelas montanhas aflorantes do Ibitiraquire , o tempo estava agradável composto por um céu exuberantemente azul onde nuvens de algodão desfilavam parecendo festejar a nossa presença . Não demoramos muito e retornamos para desarmar o acampamento na montanha anterior.






  Sensação de liberdade no corpo e na alma , é assim que me sinto até voltar para BR seguindo em direção à cidade , são dois mundos completamente distintos . Uma das recompensas da montanha é unir as pessoas através de um objetivo comum : ser feliz nas alturas e renovar a vida , esta última se recicla a cada subida , é como se um novo ciclo recomeçasse . Nessas minhas poucas andanças conheci muitos amantes das montanhas e com muitos deles criei laços de amizade , amizade verdadeira , a última trip é um exemplo disso.







O próximo post será pré-moldado nas alturas do Pico Paraná

Até a próxima trilha,abraço !





















Com a cabeça nas nuvens e os pés no Marumbi



Nas alturas , mergulhando em busca de novos ares , à procura de um equilíbrio entre o corpo e a alma : assim comemorei o meu vigésimo segundo aniversário . Antes das aulas geológicas recomeçarem, resolvi cumprir com a promessa de completar o circuíto de montanhas do esplêndido Conjunto Marumbi ( localizado na Serra do Mar Paranaense entre as coordenadas geográficas de latitude sul 25º30′ e 25º25′ e longitude oeste 48º58′ e 48º53′ ).

Grandes blocos graníticos aflorantes com vales profundos e gigantescos paredões íngremes compõem a atual Serra do Mar Paranaense. O Conjunto Marumbi , conhecido também por “Granito Marumbi” , apresenta  uma idade que oscila entre 400 e 600 milhões de anos.


O plano traçado era de começar a empreitada pelo tradicional Caminho do Itupava (aproximadamente 22 km) e ir até a base do Parque Estadual Pico do Marumbi e no dia seguinte acessar a Ponta do Tigre (1.400 m) , Gigante (1.487 m) e Olimpo (1.539m ). Para me acompanhar nessa jornada convidei alguns amigos que estavam dispostos a atingir o mesmo objetivo : Juliana Hoy , Bruno Aguilar , Ana Cecília , Veleda Astarte , Tiago Rossoni e Victor Dorneles .

Começamos o Itupava às 10:00 da manhã e chegamos à Estação Engenheiro Lange por volta das 17:30 ( com paradas durante o percurso) . Que sensação indescritível chegar na Estação Marumbi , contemplar o majestoso e sentir -se um grão de areia perante tanta imponência.
Fonte: Cosmo -Corpo de Socorro em montanha(vista área do Conjunto Marumbi) .
Pernoitamos no camping , aos “pés ” do Marumba , que dispõe de uma boa infra- estrutura com água , chuveiro quente e iluminação . O tempo estava perfeito , eu e Ana Cecília tivemos uma aula de astronomia com a Juliana Hoy explicando o que está escrito nas estrelas …

Não me lembro ao certo o horário em que fui dormir .Sempre fico ansioso quando estou prestes a subir uma montanha , ainda mais se tratando do Marumbi que exige muito respeito e muita cautela. Acordamos por volta das 05:30 da manhã para tomarmos um café reforçado e às 06:15 iniciamos a subida pela Trilha Noroeste rumo ao primeiro cume : Ponta do Tigre .

Palavras e fotografias não são suficientes para descrever o dia glorioso que nos foi concedido. A Trilha Noroeste é puxada , exigente , um pequeno descuido pode ser fatal. Às 09:20 alcançamos os 1.400 m , fomos bem recepcionados pela Ponta do Tigre com um visual inesquecivelmente inesquecível.




Saímos entusiasmados da Ponta do Tigre rumo ao Gigante (aproximadamente 30 minutos) , a trilha que dá acesso a esse cume está um pouco fechada mas não necessita de muito sacrifício .Chegamos aos 1.487 m e resolvemos dar uma parada antes de partir para a ponto mais alto do Conjunto .Nos deslocamos do Gigante em direção ao Olimpo , que também pode ser acessado pela Trilha Frontal. Atrilha que viabiliza a chegada nessa montanha é bem demarcada , o dia continuava bonito e realçava ainda mais o cenário exuberante composto pelas demais elevações. Os 1.539m estavam alcançados , chegamos ao Olimpo por volta das 12:30 novamente , bem recebidos pela paisagem . Mas que doido esse sentimento despertado no alto da montanha , né ? não sei explicar com precisão , só posso afirmar que é confortante.







Momentos que servem para fortificar e conquistar amizades , respeitar os limites individuais , aprender e reaprender : esse é o universo das montanhas ...
No próximo post será relatada mais uma trip na Serra do Ibitiraquire , desta vez : Tucum e Camapuã .

Abraço,galera !













Entre nuvens e montanhas -Serra do ibitiraquire


Comecei o mês de março com os pés na Serra do Ibitiraquire , mais precisamente no Itapiroca . Distante da cidade , afastado dos carros e buzinas , livre dos problemas (momentâneamente) , longe de tudo que é comum…
Para muitos é difícil compreender essa necessidade de fuga para as montanhas , talvez porque nunca tiveram a oportunidade de conhecer esse outro mundo. Sim , outro mundo !É como se um portal separasse a vivência da sobrevivência , o sonho da realidade , o perfeito do imperfeito e ajudasse a alma se refugiar e a mente se reciclar.

Recebi o convite do Guilherme Rosa para acampar no Itapiroca juntamente com os Conrados , já havia feito uma trilha com eles , agregam simplicidade , espírito montanhista e amizade. A manhã da partida estava nublada , fria , com jeito de tempestade , mesmo assim partimos e enfrentamos um congestionamento quilométrico na BR-116 , antes de chegar na Fazenda Pico Paraná .

O Itapiroca , montanha pertencente à Serra do Ibitiraquire , apresenta 1.805 metros e dentre as montanhas que compõem o conjunto é a quinta em altitude. Iniciamos a subida às 14:00 hrs com o tempo instável e um pouco quente , até chegarmos ao Morro do Getúlio o tempo havia se “firmado”. A expectativa era chegar no cume e ainda ser bem recebido pelo pôr do sol …


Foto : Victor Dornelles


Chegamos na montanha , com um tempo fechado , 3 horas após o início da subida . Logo de imediato armamos as barracas e a chuva despencou com tudo , acompanhada de muito vento. De início a expectativa era de a chuva dar uma trégua , mas ela se intensificava ainda mais, assim como o vento … mas a esperança de ser presenteado com um nascer do sol impetuoso ainda existia . O jantar , daquela noite , posso dizer que foi à base de bolacha e outras porcarias , ainda pude ouvir um pouco de Engenheiros do Hawaii antes do sono me pegar . Aproximadamente às 04:00 horas da manhã a chuva e o vento cessaram , ao sair da barraca pude contemplar um céu ,azul escuro, com muitas estrelas e as silhuetas do maravilhoso Pico Paraná(em frente ao acampamento ) e do ponto mais alto do Itapiroca (ao lado do acampamento) .

Tudo pronto para o início do espetáculo , às 06:00 da manhã o sol já despontava atrás do Pico Paraná (1.877,392 m) dando ao céu uma tonalidade variada de cores quentes .A galera , em peso , levantou cedo (antes do café) para prestigiar o novo nascer do astro rei , mesmo com todo o frio que fazia ( nem sei estimar a sensação térmica daquela manhã de março) . O Itapiroca proporciona uma ampla visão do Ibitiraquire , é possível avistar montanhas como o Ciririca , Caratuva , Tucum , Camapuã , dentre outras…





Essa filosofia montanhística é inevitável .O ambiente como um todo e a inspiração do dia  são alguns dos fatores que contribuem para esses momentos de reflexão. Termino o post de hoje com uma frase do nosso amigo Belchior , na qual consta : " Minha alucinação é suportar o dia a dia e meu delírio é a experiência com coisas reais ..."

Até o próximo post , abraço !

















Até a próxima trilha, abraço !